Resenha: As Primeiras Quinze Vidas de Harry August – Claire North

Preciso compartilhar com vocês a leitura do livro As Primeiras Quinze Vidas de Harry August, escrito por Claire North, uma autora inglesa que eu desconhecia até então, mas que já virei  super fã.

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Sinopse: 

Harry August, nosso protagonista, está morrendo. Mas não é a primeira vez que isso acontece. E também não quer dizer que ele quase morreu outras vezes. Não. Ele realmente morreu, só que ele sempre nasce novamente. Então, encontra-se ele, mais uma vez, à beira da morte, não pela primeira vez, mas pela décima primeira vez, e uma garotinha de 7 anos aparece para lhe passar uma mensagem do futuro: “O mundo está acabando, como sempre. Mas o fim está chegando cada vez mais rápido. Então, agora, é com você”.

Gente para tudo! O que foi essa sinopse? Bom, deixe-me destrinchá-la e explicar melhor para vocês.

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Harry August é um kalachakra, um ouroborano.

Kalachakra vem do sânscrito e significa “tempo-ciclo”; “ouroborano” vem da palavra “ouroboro”, que é uma criatura mitológica representada por uma serpente que engole a própria cauda, formando um verdadeiro círculo, dando, assim, ideia de ciclo da vida, eternidade, o tempo, etc.

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O que é um kalachakra/ouroborano?

Bom, em primeiro lugar, o que você precisa saber acerca dessa nomenclatura é que é assim que seres humanos desta categoria – que morrem e renascem –, se autodenominam, em contraposição aos seres humanos comuns, chamados de “lineares”, que vivem uma única vida.

Todos os kalachakras vão passar por algumas etapas ao longo de suas inúmeras vidas, até entender o que lhe acontecem.

Kalachakras podem morrer de formas variadas, mas sempre vão (re)nascer exatamente no mesmo dia e, para o bem ou para o mal, vão se lembrar de suas vidas passadas. É claro que, num primeiro renascimento, a pessoa pode achar que está louca (você não acharia também?). Então eles passam por uma fase de rejeição (I) de suas condições, depois de exploração (II), e, por fim, e de aceitação (III).

Vou exemplificar para ficar mais fácil de compreender. Harry tem uma primeira vida normal, digamos assim, já que ignora completamente ser um kalachakra. A segunda vida é praticamente desperdiçada, já que ele se suicida ainda criança, achando-se louco., rejeitando (I) que seja possível ter tido uma vida passada da qual ele se lembre. Depois, ainda em suas primeiras vidas, Harry começa a procurar respostas para sua peculiar condição, explorando (II) as verdades da ciência, principalmente da medicina, e em outras vidas, parte para buscas na filosofia e na religião. Até que, portador de uma enorme sabedoria e conhecimento sobre todas as práticas medicinais, de todas as religiões e filosofias de vida, ele finalmente aceita (III) sua condição, e chega à conclusão que nenhuma das três grandes áreas do saber lhe oferecem respostas, passando a aproveitar suas múltiplas vidas para conhecer novos lugares, culturas e aprender novos idiomas

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Quem é Harry?

Harry sempre nasce no dia 31 de dezembro de 1918, fruto de um estupro. Sua mãe biológica sempre morre logo que lhe dá a luz. Acaba sendo criado por pais adotivos, já que seu pai biológico o rejeita. Toda vez que ele morre, ele vai renascer nas mesmas circunstâncias: dos mesmos pais, no mesmo local, e sempre vai parar nas mãos da mesma família adotiva. Até porque, ele não tem controle do que acontece antes de ele nascer. Essas circunstâncias lhe são alheias, não dependem dele, digamos assim.

Os kalachakras com 3 anos de idade começam a retomar as memórias das vidas passadas, estando elas totalmente consolidadas até os 4 anos. Conforme séculos vão se passando, em contagem de anos vividos por cada kalachakra, é normal que a pessoa passe a esquecer de algumas coisas. Mas Harry é peculiar até nisso: ele se lembra de tudo, sempre.


Mas não é tão simples assim, a pessoa revivendo a mesmíssima vida, todas as vezes que renasce.

Quer dizer então que ela pode fazer uso de suas vidas passadas para tentar mudar algo nas próximas vidas? Depende.

Embora grandes eventos aconteçam inalteradamente, por exemplo: a queda de Nixon, eclosão da II Guerra Mundial, queda do muro de Berlim, crise do petróleo, etc… coisas menores se alteram de uma vida para outra.

Por exemplo, a mãe adotiva de Harry sempre morre da mesma doença, mas os dias variam. Harry numa vida se casa com uma mulher chamada Jenny, e a reencontra em outras vidas, mas só se casa com ela numa única vida.

É claro que existe uma explicação para isso, de grandes eventos permanecerem inalterados e outros mais particulares, não. Aliás, no livro, explicações não faltam. A autora se preocupou em cobrir muitas lacunas, ela mesma gerando questionamentos, através de seu protagonista, e depois respondendo-os. Muitas vezes apresentando as soluções, mas também muitas vezes admitindo humildemente não saber respondê-las, pois, afinal, como Harry August diz “tempo não é sinônimo de sabedoria”.

Mas, como eu ia dizendo, a maior razão para que grandes eventos permaneçam inalterados deve-se aos conselhos do chamado Clube Cronus. O Clube Cronus existe no mundo inteiro, formados por ouroboranos que acreditam que o ideal seja não tentar afetar o futuro, poise deve-se pensar sempre em prol das próximas gerações. Harry entende que esse conselho deve-se à complexidade que isso implica. E no livro, ele explica com ótimos argumentos quais as complexidades implicadas em grandes mudanças. Mas, mais pra frente na história, o leitor (e ele também) percebe que não se trata apenas de mera complexidade.

Afinal, segundo lhe foi informado, o mundo está chegando ao fim, cada vez mais rápido. Ora, será que não seria justamente por que alguns kalachakras que acreditam poder fazer a diferença com seus conhecimentos de longuíssimo prazo é que o mundo estaria acabando cada vez mais cedo?

É o que Harry então vai ter de investigar. O que está acelerando o fim do mundo, afinal?  Por conta dessa investigação, no entanto, ele se verá em meio a um grande dilema: poder testemunhar grandes avanços científicos à frente do tempo ou ter mais que mera simpatia por épocas e gerações em que ele nunca vai viver e conhecer.

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De histórias que mexam com essa ideia de tempo, seja de filme, seja em livro, essa com certeza é a minha preferida até o momento.

A escrita da Claire North é perfeita. Tem uma minúcia que corrobora veracidade para  a história, sem ser cansativa.

Teve gente que achou que no meio do livro a história foi ficando um pouco maçante. Eu particularmente discordo, mas até entendo os que não gostaram muito. A história ganha um viés um pouco filosófico, enquanto Harry August tece seus feitos das vidas anteriores. Mas é justamente nessas partes que eu vi algumas questões serem levantadas pelo próprio personagem acerca de sua condição e achei fantástico a Claire ter trabalhado muito consistentemente as regras e implicações de tempo que ela criou.

Também, não achei cansativo porque, embora ao longo do livro existam parágrafos gigantescos, os capítulos em geral são bem curtos, corrigindo sempre eventual oportunidade de tédio pro leitor.

Mas, quem ainda assim achar que o meio da história dá uma desacelerada que compromete a história… não desista, porque depois dessa parte, sempre acontece alguma coisa arrebatadora. É um livro que não vale a pena desistir da leitura no meio, entende?

A única coisa que me incomodou de verdade no livro, foi a revisão. Principalmente depois desse meio controverso em diante. Fica muito claro que o revisor fez ou de qualquer jeito ou às pressas o trabalho. Porque alguns erros são imperdoáveis. Tipo trocar 55 anos por 5 é grotesco, ou trocar “conversamos” por “conservamos” é muito desleixo. Desculpe, é o que eu penso. Não to dizendo que eu nunca erro escrevendo meus textos, ok? Errar é normal. No geral, você percebe o erro e isso não atrapalha a compreensão do enredo. No começo teve até alguns erros que eu nem dei muita bola, porque eram mínimos, mas depois de um tempo, a constância deles foi me irritando um pouco.

Felizmente, isso não tira a qualidade da história. A Claire é uma escritora incrível, que só de imaginar todo o trabalho de pesquisa que ela teve para escrever esse livro, eu tiro meu chapéu pra ela 1000 vezes se for preciso.

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E, como nós somos meros “lineares” e não podemos viver séculos de memória própria, então, eu sugiro a leitura desse livro na vida de vocês, para que vocês ao menos de forma fictícia possam viver muitas vidas e experiências.

Boa leitura a todos!


Informações adicionais sobre o livro:

Capa comum: 448 páginas

Editora: Bertrand; Edição: 1ª (21 de janeiro de 2017)

Título original: The Firts Fifteen Lives of Harry August

ISBN-10: 8528621421 – ISBN-13: 978-8528621426

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3 comentários

  1. O começo do livro é brilhante, o protagonista é fascinante e incrível até o momento em que a visão da autora se mistura ao personagem, são diversos capítulos descrevendo a russia e a china como piores lugares possíveis no universo, as barbaridades cometidas em questão. Não me incomodaria tanto se por acaso houvesse uma autocrítica, quando Harry vai à Africa poderia descrever em detalhes as barbaridades feita pelos ingleses, quando vai a America poderia detalhar os massacres cometidos aos povos nativos, mas prefere se ausentar.

    Curtido por 1 pessoa

    1. Quando li fiquei incomodada com essa visão do personagem também, mas não achei que era uma visão da própria autora, apenas de um personagem construído de forma que os leitores fossem sentido cada vez mais incomodados com a postura dele diante do poder em suas mãos…

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