Marin deixou tudo para trás. A casa de seu avô, o sol da Califórnia, o corpo de Mabel e o último verão agora são fantasmas que ela não quer revisitar. O retrato de uma história em que já não se conhece mais. Ninguém nunca soube o motivo de sua partida. Nada se sabe sobre a verdade devastadora que destruiu a sua vida.
Agora, ela vive em um alojamento vazio e está sozinha no inverno de Nova York. Marin está à espera da visita de sua melhor amiga e do inevitável confronto com o passado. As palavras que nunca foram ditas finalmente se farão presentes para tirá-la das profundezas de sua solidão.
Solidão. Esta me parece a palavra-chave para resumir este livro. “Estamos bem” é um dos livros mais belos que li na minha vida. Belo de um jeito triste, mas, sem dúvidas, belo. É um daqueles livros que nos invade até as profundezas da alma e evoca nossa solidão e, um pouco mais além, a dor da solidão que muitas vezes buscamos reprimir.
A todo momento da leitura, “Estamos bem” me soou como um poema escrito em forma de narrativa. Creio que nunca tenha vivenciado nada parecido. Eu sou apaixonada por versos. Sempre gostei muito de poesia, desde criança. Mas nunca tinha lido um livro que me passasse essa sensação de poesia sem de fato ser poesia. Foi uma das qualidades do livro que mais me impressionou.
Fora isso, toda a arte do livro corrobora para termos em mãos uma obra maravilhosa. A ilustração da capa já emana sensações incríveis à primeira vista, e todo o design gráfico segue no mesmo sentido: detalhes como a escolha do papel e sua textura me fazem ver como o resultado dessa edição é impressionante! Já estamos diante de uma leitura densa, então a experiência de ao menos segurar um livro tão leve dá uma sensação de conforto inimaginável. Conforto esse que é o que, no fundo, buscam tanto Marin quanto o leitor.
Veja bem. Marin tem tando medo da solidão, da rejeição e de não ser amada que se refugiou justamente na própria solidão como um mecanismo de defesa. Afinal, se você não se permite ser amada, então não se cria outra expectativa além de não ser amada. Parece simples assim. Mas Marin está enganada, e essa linda história permite ao leitor percorrer todo esse caminho de deslinde juntamente com sua protagonista. Assim, ao longo dessa trajetória de Marin, contando ainda com a presença de sua amiga Mabel, passaremos pela solidão, pela perda, mas também pelos sentimentos de amor e amizade verdadeiros.
Mas atenção. Não acho que este seja um livro para ser lido às pressas, muito embora ele seja bem curto. É uma história que deve ser sentida com todo seu coração, e nele o leitor não deve buscar nenhum enredo frenético, apenas emoções, em sua forma mais intrínseca.
E como bem está descrito nos agradecimentos de LaCour ao final do livro, a história de Marin não consiste “só de fazer comida e lavar tigelas”. Com certeza não. A vida é muito mais complexa que isso. Cozinhar, lavar, secar… são apenas minúcias do cotidiano e subterfúgios de nossos sofrimentos, mas que, se tão lindamente descritos e orquestrados dentro de algo maior, como em “Estamos bem”, então estaremos diante de uma obra primorosa.
Informações adicionais sobre o livro:
Capa comum: 224 páginas
Editora: Plataforma 21; Edição: 1ª (15 de setembro de 2017)
Título original: We are okay
ISBN-10: 8592783348 – ISBN-13: 978-8592783341
De fato, a edição é linda! E o enredo parece ter muito em comum com uma das questões da contemporaneidade: como lidar com a solidão. 😉
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Com certeza! É uma leitura muito bem vinda para ter a solidão como enfoque.
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Solidão … mal ou bem que persegue a vida contemporânea… alguém tem culpa? Quem? … É fruto de nossas escolhas? O post me lembrou o filme Lady Bird, apesar de a solidão não ser o enfoque.
O livro, me parece, traz situacoes para reflexões. Gosto muito dessas leituras. Poderia me emprestar?
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Eu tenho uma natureza solitária e até gosto da solidão ou ela pode me passar despercebida. Digo, ela não me incomoda, mas tenho sempre de me policiar, pra ver se não estou deixando ela tomar conta de mim sem perceber. A solidão, no entanto, retratada no livro tem mais a ver com a solidão que a pessoa cria por achar que ninguém é suficiente o bastante para tirar-lhe a dor, o medo. É um tipo de solidão perigosa, quando achamos que ninguém pode mudar nada ou ajudar em nada. Apesar de eu flertar com a solidão, tenho plena consciência de que ter amigos por perto quando a família não pode estar é uma espécie de cura. É isso que Marin, a protagonista, terá de aprender.
E claro que empresto o livro. Bons livros devem ser compartilhados! 😊
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