Olá, querido leitor. Estava organizando melhor minhas anotações de livros, e decidi transformar em post escrito algumas das resenhas que eu havia feito em formato de vídeo, na época em que eu era colaboradora em um canal no YouTube.
E nada melhor que começar pelo livro que eu considerei minha melhor leitura do ano de 2017! Até porque eu finalmente comprei o livro 2 da série, e, como com certeza mais pra frente vai rolar review dele aqui, então vamos fazer as coisas do jeito certo: completo, e do começo ao fim. Embora a série criada por Becky Chambers não seja de livros de histórias contínuas, ela os lançou em uma ordem cronológica, e eu gostaria de respeitar essa ordem também.
Bom, a série de que estou falando, vocês já puderam ver pelo título que se trata da maravilhosa A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil, e hoje vou falar do Livro 1 da série, chamada Wayfarers.
Sinopse:
Estamos no futuro, diversas espécies de seres sapientes convivem no espaço. Alguns desses seres possuem povos que foram aceitos pela Comunidade Galática — CG, mas outras, não aceitas, vivem literalmente à margem dela. Nesse espaço, circula a humilde nave apelidada carinhosamente de “Andarilha”, que perfura túneis espaciais interligando as colônias com as quais a CG estabelece uma aliança. A Andarilha é contratada para fazer um furo importante e cuja viagem será bem longa, e, como o nome do livro já sugere, com destino a um planeta hostil.
Minhas considerações:
O livro foi publicado aqui no Brasil no ano de 2017, com um projeto gráfico lindíssimo e impecável, que já é notório e praticamente marca registrada da Darkside Books. Por ser escrito por uma mulher, o livro entra automaticamente no selo darklove, que é o selo da Darkside que publica livros de escritoras mulheres dos mais variados gêneros, sendo A Longa Viagem um livro de Ficção Científica por excelência.
Becky Chambers é uma escritora norte-americana, filha de cientistas espaciais, o que explica o entusiasmo dela pelo gênero sci-fi e também a qualidade dessa obra. Esse entusiasmo também fica evidente quando descobrimos que o livro foi publicado graças a muita força de vontade da autora, pois ela teve de recorrer a um financiamento coletivo, o Kickstarter. Felizmente, no caso de Chambers, essa foi uma aposta certeira, pois nove meses depois da publicação pelo Kickstarter, ela já havia fechado um contrato com uma editora para que o livro fosse publicado nos moldes tradicionais que já conhecemos. E fez tanto sucesso o livro, que, na verdade, como já falei para vocês, a autora acabou escrevendo uma série (uma trilogia)! Aqui no Brasil, por enquanto, temos só os dois primeiros livros da série traduzidos, mas logo deve sair o terceiro.
Em relação à história em si, devo dizer que, embora o título possa dar a ideia de um destino, sabemos que é o caminho sempre que mais importa. O percurso em si. Eu considero esse livro uma verdadeira road trip, só que no espaço. E nessa longa viagem, nós, leitores, também temos a oportunidade de refletirmos bastante.
A tripulação da Andarilha é interespécie. Basicamente, metade da tripulação é humana, mas nem por isso o livro foca em momento algum na espécie humana, pelo menos não tratando o homem como uma espécie superior, heroica, nem nada do tipo, e isso já é bem legal.
Becky Chambers constrói muito bem os personagens e desenvolve bem suas histórias e dramas particulares. São personagens com dimensão e profundidade, o que nem sempre encontramos no gênero sci-fi, e isso foi o que me pegou de vez. Nunca achei que iria considerar um livro de ficção científica meu favorito do ano. Mas foi o que aconteceu. Enfim, por meio das descrições e do detalhamento da história de cada personagem, vamos conhecendo melhor cada uma das espécies que compõem a tripulação e passamos, de alguma forma, a avaliar a raça humana por um ponto de vista exógeno à nossa própria espécie.
Ao longo do livro, várias críticas são feitas aos seres humanos pelas outras espécies, algumas diretas, outras mais sutis; e diria que mais de 90% delas são críticas negativas, havendo poucos, mas ainda assim existentes, elogios aos humanos.
No livro, vemos que, ainda dentro da própria espécie humana, infelizmente, está presente o preconceito. E, por se tratar de um gênero de ficção científica, achei muito legal da Becky Chambers ter abordado isso. E o que foi que ela abordou? Vou deixar duas questões trazidas pela autora, pelo menos da forma como eu as enxerguei:
- Já se passaram muitos anos, os seres humanos sequer vivem no Planeta Terra, e ainda há aquele debate de Ciência vs. “ciência”. Como assim? Explico: uma nova tripulante está para chegar à Andarilha. Ela vai ser a guarda-livros da nave. Possui diploma, é altamente qualificada e tudo mais. Mas um dos membros (humano) questiona a utilidade dela. O capitão (também humano) esclarece porque acha que é uma boa ela se juntar à tripulação e termina dizendo a ele que a nova integrante estudou, inclusive, na mesma universidade que o relutante membro, ao que este responde: “É, mas eu estudei no departamento de ciências. Tem uma grande diferença”. Ou seja, aquele velho preconceito com as humanidades em geral. Mas é maravilhoso, desculpa se talvez isso seja um spoiler, saber que ele vai pagar a língua dele.
- Há um tripulante que é anão, e a recém-chegada, ao analisar seus novos companheiros do espaço, fica em dúvida se ele é um ser humano, por causa de seu tamanho. Fica evidente, portanto, que mesmo nesse futuro longínquo e muito “avançado”, ainda julgamos o outro pela aparência, e, mais triste ainda, nem sabemos reconhecer nossos semelhantes.
Fora dessas críticas intraespécie humana que destaquei, há várias análises que podem ser feitas ao longo da leitura do livro, mas se eu fosse apontá-las uma a uma, esse post ficaria muito longo. O que quero dizer para vocês é que é uma leitura que vale muito a pena, principalmente para debates (fica a dica para clube de livros). Vão ser trazidos temas como diversidades raciais, clonagem, guerras e conflitos, relacionamentos inter raciais, homossexualidade, crenças religiosas, sociedades marginalizadas, ética, política, direitos, e, lembrando também o filme “Ela”, com o Joaquin Phoenix (quem assistiu?), há o relacionamento entre um humano e um programa de inteligência artificial dotado de consciência. Tanta coisa, que só lendo mesmo para digerir como todos esses temas se mesclam na narrativa de Chambers.
A linguagem de Chambers, aliás, é impecável. Ela faz uso do jargão técnico, dando consistência pro cenário que ela construiu, mas o melhor de tudo é que em momento algum isso torna a história esnobe, incompreensível ou enfadonha. Cada palavra do livro parece ter sido meticulosamente pensada. Tem um texto conciso, onde nada está sobrando, nada está faltando. Gostei demais da escrita dela, dos personagens, da história, de tudo, ficando, portanto, todas as minhas recomendações desta leitura!
Agora mal posso esperar pela hora de ler o segundo livro da série.
Até a próxima!
Informações adicionais sobre o livro
Capa dura: 352 páginas
Editora: DarkSide (10 de agosto de 2017)
ISBN-10: 8594540507 — ISBN-13: 978-8594540508
Título original: The Long Way to a Small, Angry Planet
Excelente o post. Confesso que a ficção científica não me atrai muito. Mas enquanto lia o post identifiquei o cenário com o momento político mundial e o provável breve futuro. Pareceu tudo muito real.
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