Resenha: O Conto da Aia – Margaret Atwood

Primeiro livro lido das minhas metas de leitura de 2019!


Olá, pessoas, sei que estou um pouco atrasada com as minhas metas, mas finalmente consegui cumprir uma dentre as definidas para o ano.

Contudo, apesar da demora, devo dizer que comecei com uma leitura brilhante e distópica.

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Sinopse:

A história de O conto da aia passa-se num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes – tudo fora queimado. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América. As mulheres de Gilead não têm direitos. Elas são divididas em categorias, cada qual com uma função muito específica no Estado – há as esposas, as marthas, as salvadoras etc. À pobre Offred coube a categoria de aia, o que significa pertencer ao governo e existir unicamente para procriar. Offred tem 33 anos. Antes, quando seu país ainda se chamava Estados Unidos, ela era casada e tinha uma filha. Mas o novo regime declarou adúlteros todos os segundos casamentos, assim como as uniões realizadas fora da religião oficial do Estado. Era o caso de Offred. Por isso, sua filha lhe foi tomada e doada para adoção, e ela foi tornada aia, sem nunca mais ter notícias de sua família. É uma realidade terrível, mas o ser humano é capaz de se adaptar a tudo. Com esta história, Margaret Atwood leva o leitor a refletir sobre liberdade, direitos civis, poder, a fragilidade do mundo tal qual o conhecemos, o futuro e, principalmente, o presente.

Minhas impressões e algumas considerações:

Creio que o que mais me assustou nessa leitura não foram os absurdos que lia sobre como as mulheres eram subjugadas, mas como alguns absurdos estão, por vezes, tão próximos da realidade, por mais que se trate apenas de uma história fictícia.

Mas há uma passagem no livro que vou usar para fazer um questionamento e que traduz bem o que o livro representou para mim:

Se é apenas uma história, torna-se menos assustador.

Será? Não a meu ver, pois como já disse, há absurdos tão ou mais reais quanto os que ficção nos oferece.

Não, não estou dizendo que atualmente as mulheres são divididas em diferentes categorias e propriedades do governo, algumas destinadas apenas à procriação. Estou querendo lembrar o leitor que, de fato, pelo mundo, existem mulheres que são escravas sexuais, que há tráfico de pessoas, sobretudo de mulheres. Estou querendo lembrar o leitor também de que não é preciso retirar muito do que as mulheres têm direito para que percam suas liberdades e sejam oprimidas: basta tomar-lhes uma coisa: independência financeira e os meios de alcançá-la/garanti-la.

No livro, Offred, antes de ser instalada a República de Gilead, tinha seu próprio nome, e não um estigma, que a anularia como mulher e a marcaria como mera propriedade alheia. Ela também tinha um emprego, renda própria, um marido e uma filha. Tudo isso lhe foi tirado. Se seu próprio governo a proíbe de trabalhar, pela simples condição de ser mulher, e também a proíbe de possuir bens próprios, quanto de liberdade lhe resta? A meu ver, muito pouca. Não é o fato de ela não poder trabalhar, veja bem. É ela nem sequer ter a opção de fazê-lo. Fosse retirada essa opção, retrocederíamos inestimavelmente, depois de anos de lutas e conquistas. Espanta pensar, porém, que, no mundo real, existem países onde o marido tem o direito de proibir a mulher de trabalhar. Espanta pensar que existem países que não possuem qualquer legislação contra o assédio feminino. Espanta pensar que existem países onde a mulher precisa pedir autorização do marido para abrir uma conta bancária ou uma empresa.

Pensar que essas realidades estão longe de nós é querer tapar o sol com a peneira.

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Por mais que a legislação de um país tenha influência enorme ditando os direitos das pessoas e, sim, das mulheres, há ainda os fatores culturais. Há homens que não respeitam as mulheres, que se acham no direito de decidir acima dos direitos e liberdades delas. Isso aqui, no Brasil, isso nos EUA, isso no mundo todo. Infelizmente. Atwood só nos faz despertar, apontando, através de um enredo distópico, como tais fatores culturais são a base da repugnante República de Gilead, mas cuja origem/causa ela atribui às raízes puritanas do século XVII.

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O Conto da Aia é uma leitura perturbadora, mas necessária. Eu não sei se é possível perceber a revolta em mim que este livro despertou, mas eu espero sinceramente que sim. Este livro é um exercício de reflexão sobre as condições das mulheres e dos questionáveis valores tradicionais cultivados pela sociedade. Simplesmente leiam! Ou ao menos assistam à série homônima, que, preciso  dizer, vai além do livro, tecendo um cenário muito mais absurdo e revoltante.

Eu achei a leitura tão poderosa que não experimentei sequer aquilo que chamam de “ressaca literária”. Muito pelo contrário, ela me instigou inclusive a ler mais livros de mulheres, ainda que a própria autora não se considere uma feminista. Também, gostei  muito da escrita de Atwood. Sei que teve muita gente que a achou enfadonha e maçante, mas eu a achei apropriada ao livro, imprimindo no leitor uma sensação de distância que cai como uma luva, separando dois momentos bem distintos da história: os tempos passados e o tempo presente, totalitário e teocrático de Gilead. Offred nos conta uma história como quem conta um sonho – ou um pesadelo. Não parece real, e, por vezes, difícil de acreditar, mas é assustador como a ficção tangencia a realidade.

Decidi, após essa leitura também, que o mês de março será dedicado à leitura de livros escritos por mulheres. Se você vem junto nesse desafio, não deixe de me avisar!

Você já leu O Conto da Aia? Eu achei bem difícil falar sobre esse livro, por ele abordar situações que me parecem tão absurdas, mas principalmente depois de muita gente já o ter lido e ter comentado sobre ele, sobretudo após eleição do Trump e após nosso período pré-eleição também.

E a série, vocês já viram? De qual vocês mais gostaram?


Informações adicionais sobre o livro:

Capa comum: 368 páginas

Editora: Rocco; Edição: 1ª (7 de junho de 2017)

ISBN-10: 8532520669 – ISBN-13: 978-8532520661

Título original: The Handmaid´s Tale 

 

11 comentários

  1. Ainda nao li o livro, mas o post me deixou muito curiosa. Enquanto lia a sinopse eu pensava “isso é muito real”, o que foi bem destacado em linhas posteriores. Gostaria muito de lê-lo.

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  2. Se o momento atual já está difícil para nós mulheres, imagine perder alguns dos direitos que foram conquistados com tanto esforço?! É realmente, perturbador! Amei a sua resenha. Parabéns!♥♥♥

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  3. Assisti a série apenas e ainda não tive a oportunidade de ler o livro. Mas a série já aborda muito profundamente esses aspectos citados, mulheres sendo tratadas como “mercadoria” se assim podemos dizer, sem direito a nada.
    É um livro muito necessário nesse momento atual…

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  4. Esse é um livro que deveria ser exigido nos vestibulares, pois os questionamentos que traz são extremamente atuais.
    Basta uma lida rápida nas chamadas de notícias de qualquer periódico do país para ver a realidade a qual as mulheres são submetidas.
    O Conto da Aia é uma excelente ferramenta de conscientização para esse problema.
    Parabéns pela resenha!!

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