O título do post de hoje faz parecer que vou falar sobre uma livraria de Paris. Pena que não é o caso, pelo menos não na vida real.
A Livraria Mágica de Paris é um romance da escritora Nina George, e, embora a livraria mágica de Paris que ela descreva no livro não exista no mundo real, só a ideia de tal lugar já traz uma sensação de aconchego.
Esse também foi o livro selecionado para a leitura conjunta do Clube do Curinga para o mês de junho (se quiser saber mais sobre o Clube, faça uma visita no meu Instagram. A leitura conjunta de julho já está selecionada também: O Museu das Coisas Intangíveis – Wendy Wunder).
Sinopse:
O livreiro parisiense Jean Perdu sabe exatamente que livro cada cliente deve ler para amenizar os sofrimentos da alma. Em seu barco-livraria, ele vende romances como se fossem remédios. Infelizmente, o único sofrimento que não consegue curar é o seu: a desilusão amorosa que o atormenta há 21 anos, desde que a bela Manon partiu enquanto ele dormia. Tudo o que ela deixou foi uma carta ― que Perdu não teve coragem de ler. Até um determinado verão ― o verão que muda tudo e que leva Monsieur Perdu a abandonar a casa na estreita rua Montagnard e a embarcar numa jornada que o levará ao coração da Provence e de volta ao mundo dos vivos.
Minhas impressões sobre o livro e a leitura conjunta:
Um barco-livraria! Já pensou que legal?! Para alguém como eu que ama visitar livrarias diferentes pelo mundo, o lugar seria, com certeza, uma visita super emocionante! Até existe algo do tipo no mundo, mas não exatamente a livraria de Jean Perdu, pequena e aconchegante. Não sei se vocês já ouviram falar do barco-livraria Logos Hope, que é o maior barco-livraria do mundo, e que atracará no Brasil em agosto deste ano (2019). Eu só soube graças à grande e valiosa dica do Leonard, um leitor bastante fiel aqui no blog (meu muito obrigada, como sempre!).
Mas a livraria de Jean Perdu é algo bem diferente. Ela não encanta pelo tamanho, e sim pela proposta, pela forma como Perdu vende seus livros. Fico me perguntando qual livro ele me indicaria. Adoraria saber.
O triste de tudo, como se lê na sinopse, é que ele mesmo não sabe o tratamento para seu próprio sofrimento, e após ter sido abandonado por sua amada Manon, 21 se passaram até que ele finalmente foi obrigado a se deparar novamente com a carta que ela havia lhe deixado antes de ir embora de sua vida. “Casa de ferreiro, espeto de pau”. Não lhe soa extremamente familiar esse ditado popular agora? Pois é, e ele traduz muito bem minha frustração em relação ao Perdu.
Sei que a trama do livro gira justamente em torno disso: do homem que consegue enxergar de uma forma diferente o âmago, a alma das pessoas e curá-las com o livro certo. Mas eu me incomodo bastante com personagens que não conseguem encarar uma situação óbvia de frente. Não precisa ser nenhum gênio para saber que ele precisava ter lido a carta de Manon antes. Mas isso acontece no mundo real também, e a consequência é que as pessoas deixam suas vidas em stand-by por medo de encarar a verdade. Até aqui, tudo bem, porque essa é a batalha de Perdu, sair dessa “suspensão” que ele lhe colocou na vida, e fica para o leitor a reflexão de não deixar que o mesmo lhe aconteça.
O “arco de redenção” de Perdu é longo, dura o livro todo, e foi realmente o mais cansativo da leitura para mim. Eu queria que Perdu saísse do luto logo e que tudo o que havia mais de belo no livro voltasse a brotar, como aconteceu com bastante frequência no início do livro. Jean Perdu tinha tamanha dificuldade em lidar com o abandono de Manon que o leitor leva um tempo até descobrir o nome da mulher que o abandonou. Em vez disso, Nina George se utiliza dos símbolos ***.
Na tentativa de tornar o enredo um pouco mais atraente, surgem vários personagens, uns com maior participação, outros com menor, e, alguns deles, realmente, até me fizeram rir durante a leitura, como o caso de Max Jordan. Uma espécie de alívio cômico em meio aos pensamentos anuviados de Perdu sobre sua própria vida.
Nessa leitura conjunta, cujo livro foi selecionado pela querida Marie do @jujuba.literaria (clique para acessar a resenha dela), além de mim, embarcaram também a Day do @leiturela e a Jay do @litteriis. Não sei se a Day e a Jay terminaram a leitura, porque a história não as estava prendendo. Eu as entendo, não foi das minhas melhores leituras mesmo, embora, eu pense que o livro tenha começado super bem, o que só elevou as expectativas que eu já tinha com o livro, e que foram sendo frustradas ao longo da leitura.
A Jay chegou a me perguntar se valia a pena seguir em frente com o livro. Acho que depende mais do tipo de leitor que você é. Hoje em dia eu custo muito a largar um livro para sempre. Eu posso demorar um ano que seja para concluí-lo, mas se eu comecei, vou querer terminar. Se você não for dessa filosofia, amigx, um conselho: se as coisas que te prenderam no início de uma leitura não estão sendo o suficiente para você levar adiante o livro, abandone-o. Se nada o pegou de jeito desde o início, deixe-o de lado e volte a ler em outro momento. Talvez você apenas não esteja no clima para ler o livro. Se você é como eu, legal… mas não precisa ser.
Mas Jay, e leitores aqui do blog, sim, eu terminei o livro, e, conforme respondi à Jay também, eu dei 4 estrelas para ele. Não senti que melhorou muito depois que o livro começou a se tornar maçante, mas eu me emocionei bastante ao final. Creio que a empatia é uma ferramenta poderosa para esta leitura. Ainda assim, se eu fosse dar uma nota ao livro por impulso, logo que eu o terminasse, e não após um momento de reflexão sobre todo o trâmite da leitura, provavelmente a nota seria menor. O que elevou a nota do livro para mim foram os momentos deliciosos que tive com passagens específicas e a compreensão do amor inegável que Nina George tem pelos livros. Ela pode ter errado a mão em alguns pontos da história, tornando-a às vezes mais louca que o recomendado, às vezes mais enfadonha que o necessário, mas as quotes com as quais me identifiquei foram não só uma recompensa, mas um acerto em cheio, e o seu nítido perfil bibliófilo, só terminou de me conquistar. Há inúmeras referências a outros livros ao longo da história, que os leitores mais ávidos vão adorar, e que Nina faz o favor e a brincadeira de colocar também ao fim do livro, como uma espécie de “Farmácia Literária”. Além disso, o livro trata de temas que assombram a maioria das pessoas: o envelhecer, a perda, o luto, a morte, a vida, o que faz dele uma leitura válida dentro da perspectiva de tais temas.
Como a última leitura conjunta foi Drácula, achei divertidíssimo que na letra “S” da “Farmácia” George tenha colocado Stoker, Bram: Drácula – “Contra sonhos enfadonhos; recomendado para a paralisia da espera telefônica (“Quando ele finalmente vai me ligar?”)”.
Para finalizar, vou deixar alguns quotes aqui, para que você possa sozinho avaliar se vale a pena essa leitura ou não. Afinal, assim como Perdu, eu posso deixar a prescrição de um “remédio literário”, mas é só você quem pode decidir se irá se medicar ou não:
“Livros nos protegem da burrice. De falsas esperanças. De homens vaidosos. Despem a senhora com amor, força e conhecimento. São o amor que vem de dentro”.
“Kästner foi uma das razões pelas quais batizei o meu barco-livaria de Farmácia Literária […]. Queria tratar sensações que não são conhecidas como doenças e que nunca são diagnosticadas por médicos. Todas aquelas pequenas emoções e todos os sentimentos pelos quais nenhum terapeuta se interessa, porque parecem pequenos demais e intangíveis. O sentimento que nos invade quando outro verão chega ao fim. Ou quando percebemos que não temos mais uma vida inteira pela frente para encontrar nosso lugar no mundo. Ou a leve tristeza de quando uma amizade não se aprofunda e você percebe que a busca por um amigo de verdade ainda não terminou. Ou a melancolia na manhã do aniversário. A saudade do ar da sua infância. Coisas assim”.
“”Existem mulheres que sempre olham à outras apenas nos sapatos, nunca no rosto. E outras que encaram as mulheres sempre no rosto e raramente nos sapatos”. Lirabelle preferia as do segundo tipo; ela se sentia humilhada e subestimada pelas do primeiro”.
“Ter saudades de casa é sofrer de amor. Só que pior”.
Também tem algumas receitas francesas ao final do livro, espero poder fazer ao menos uma delas algum dia e postar aqui.
Você já leu A Livraria Mágica de Paris? Se não, ficou interessado? Você gosta de ler livros em que é capaz de sentir o amor por livros do(a) próprio(a) autor(a)? Eu particularmente adoro!
Informações adicionais sobre o livro:
Capa comum: 308 páginas
Editora: Record; Edição: 1ª (23 de setembro de 2016)
ISBN-10: 8501107611 – ISBN-13: 978-8501107619
Título Original: Das Lavendelzimmer
Como assim, a pessoa passar 21 anos sem ler a carta deixada pela mulher que o abandonou?! Morri!!!
Eu sempre via postagens desse livro e o título dele sempre me chamou a atenção, pois tb gosto de livros que tratam sobre livros ou leitores de alguma forma. Pena que a leitura não foi tudo aquilo que você esperava. De qualquer forma valeu a experiência. 🙂 ♥
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Então, menina! Hahaha, isso não desceu pra mim. Mas é como eu tava comentando com meu marido aqui… talvez outras pessoas se vejam mais no romance que eu mesma me vi, e gostem mais dele. Minha sogra adorou.
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Isa, pareceu interessante este livro, vou ler também, anote aí!
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Ok! Hahaha, vou emprestar!
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Oies Isa! Pena quando um livro nos decepciona de alguma modo, né? Eu sempre tive certa curiosidade com esse livro, mas nunca cheguei a me aprofundar no tema e outros detalhes.
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Foi uma pena mesmo… ainda mais porque, na minha cabeça, esse livro tinha um enorme potencial que não foi aproveitado. Mas acontece, né? Experiências literárias resultam em efeitos diversos em pessoas diversas. Minha sogra gostou muito do livro. Creio que algo nele cativou ela mais que eu, pela própria vivência dela, e é isso que eu acho maravilhoso dos livros.
Bjos!
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Sim, exatamente!
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Ele superou a ida dela? Como? Quero saber..
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Desculpa… não dou spoilers… terá de ler o livro
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