Esta é uma das leituras que tive pressa de ler com um objetivo: permitir que todos os sentimentos que ela evoca se assentassem com o tempo.
“O olho mais azul” foi minha escolha de livro trazida para o Clube de Leituras do qual faço parte, o Clube do Curinga. Nele, ao final do mês, depois que todos tiverem concluído a leitura, nós debatemos o livro proposto. E eu sabia que eu iria precisar de tempo para digeri-lo. Passados pelo menos 10 dias, quando finalmente me encontro reunindo coragem para esboçar aqui minhas primeiras impressões, eu ainda sou pega em meio a uma incapacidade de me expressar.
Esta foi minha segunda leitura de uma obra de Toni Morrison, muito embora, cronologicamente falando, “O olho mais azul” tenha sido seu primeiro romance publicado, em 1970. A ideia nem era compará-lo com minha outra leitura, “Amada”, mas de certa forma, creio ser um pouco inevitável para mim. Há muitas semelhanças entre ambos, embora em “Amada” Toni Morrison pareça ter realmente encontrado o apogeu de sua voz narrativa. Ambos os livros abordam temas sobre raça, classe social e gênero, de forma dolorosa, têm protagonistas femininas negras, e mostram os lados mais cruéis da opressão causada pelo racismo. Enquanto em “Amada” temos uma mulher que é assombrada pelo legado da escravidão, em “O olho mais azul” temos uma garota desprezada pelos padrões de beleza criados pela sociedade.
Pecola é filha de Cholly e Polly Breedlove. A menina é rejeitada por todos, inclusive por seus pais. Seu pai a oprime, e sua mãe dedica mais tempo e amor à família branca para a qual trabalha. Na escola, é ridicularizada pelos colegas negros por ter a pele mais escura, e um dia, quando seu pai bebe demais, bate na esposa e ateia fogo na casa, Pecola vai passar um tempo com os MacTeer, onde também não encontra acolhimento. Com tamanho desprezo, nasce o desejo irredutível de que seus olhos sejam azuis.
Quem narra a história, de forma não linear e valendo-se de perspectivas alheias, é uma das filhas dos MacTeer, Claudia, que tem a mesma idade de Pecola. E um dos pontos interessantes do livro é justamente a narrativa ser feita através dos olhos de uma adolescente. Porque uma coisa é uma história ser contada por um adulto, capaz de tecer observações críticas e organizar as ideias de forma relevante ao abordar sobre como as opressões sofridas por uma garota negra lhe atingiram. Outra bem diferente é ela ser contada por outra criança que, enquanto nos relata os fatos, também ainda está tentando entender o que realmente aconteceu. Toni Morrison foi brilhante aqui, pois deixa para o leitor a tarefa, portanto, de preencher essas lacunas não ditas e não compreendidas por Claudia.
Há, porém, logo no começo do livro, uma intervenção de Toni Morrison pela voz narrativa de Claudia, que deixa bem claro que o papel do leitor será o de encontrar as explicações:
“Não há realmente mais nada a dizer — a não ser por quê. Mas, como é difícil lidar com o porquê, é preciso buscar refúgio no como”.
Eu sei. Mesmo para adultos, em pleno século 21, com uma longa caminhada já feita, ainda é difícil lidar com o porquê, muito embora saibamos que ele se traduz numa só palavra: racismo. Mas essa é a deixa de Morrison para dizer que a história que vamos encontrar em “O olho mais azul” foca em retratar como a vida de Pecola desmoronou e qual foi o refúgio insano que ela encontrou para lidar com esse porquê não dito.
A edição conta ainda com um posfácio da própria Toni Morrison, que ajuda o leitor a assentar também todo o sofrimento que o livro traz, ao abordar sua experiência de escrita do livro.
Eu, no entanto, após ler o livro, ler pelo menos duas vezes o posfácio, não sei se consegui digeri-lo completamente até agora, e este é mais um ensaio meu em que tento exprimir minhas impressões sobre a leitura.
Ainda este mês o livro será debatido no Clube e espero que essa troca de ideias consiga trazer as palavras certas para o que senti ao ler “O olho mais azul”.
Dados Técnicos do Livro:
Capa comum: 224 páginas
Autora: Toni Morrison
Editora: Companhia das Letras; Edição: 2 (18 de outubro de 2019)
Título Original: The Bluest Eye
ISBN-10: 8535903151 – ISBN-13: 978-8535903157
Esta edição foi adquirida em: Livraria da Vila (Aurora Shopping – Londrina/PR).
Aii Isa, não sei nem o que dizer, só sentir!
É mesmo muito difícil falar sobre esse livro, um turbilhão de coisas vem à mente, mas as palavras não se formam…
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Difícil, né? Estou sem palavras também…
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Quero super ler esse!!! ❤
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Ah, por favor, não deixe de ler mesmo!
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