Kusama: The Graphic Novel – Elisa Macellari

Dados Técnicos do Livro:

Capa dura : 128 páginas
Autora/ilustrações: Elisa Macellari
Editora : Laurence King Publishing; 01 Edição (15 setembro 2020)
ISBN-10 : 1786277166 – ISBN-13 : 978-1786277169
Idioma: : Inglês
*Exemplar disponibilizado em .pdf através da plataforma NetGalley

Se tem um formato que eu amo para ler biografias é o de Graphic Novels, ainda mais quando se trata da biografia de algum artista.

Graphic Novels têm esse grande apelo visual que cativa seus leitores a mergulharem nas páginas dos mais variados temas; e quando eles retratam a vida de um artista, é maravilhosa a concepção de sua pessoa e obra também sob o olhar artístico de seu ilustrador.

Confesso que conhecia muito pouco sobre a vida de Yayoi Kusama, apesar de sua obra lhe ser facilmente atribuível e ser totalmente reconhecível. Mas como alguém que já teve a oportunidade de estar em alguns museus que exibem ou exibiram seus trabalhos, me pareceu inevitável que chegasse um momento em que tivesse a curiosidade despertada para saber um pouco mais sobre a artista. Assim, quando vi que “Kusama: The Graphic Novel” estava disponível para a comunidade NetGalley, eu o solicitei, vendo ali uma ótima chance de inteirar-me mais sobre ela.


A GN conta com breve apresentação pela própria ilustradora Elisa Macellari, cujo texto se intitula, em livre tradução: “Kusama: Obsessão, amor e arte”. Nele, Macellari fala de seu fascínio pela artista de longa data e diz que, embora já admirasse o trabalho de Kusama, desconhecia toda sua obra produzida nas décadas de 1960 e 1970. Confesso que essa informação já me surpreendeu também, porque ignorava sua longa trajetória como artista. Acredito que Macellari quis, com esse belo trabalho contar a história de Kusama não apenas por compaixão ao seu sofrimento, como ela diz nesse breve texto, mas para trazer a conhecimento de um público ainda maior — como eu — não apenas a Kusama que hoje tanto se fala e conhece, cujas exibições e instalações requerem agendamento ou demandam paciência nas longas filas de espera para apenas alguns segundos de imersão, mas também seus percalços, suas dores, seus 20 anos de hiato, período em que foi completamente esquecida pelo público, e levar, assim, empatia aos leitores dessa GN.

Seja qual for o intuito que levou à produção desta obra, sinto que aprendi muito com ela, e passei a admirar também o trabalho de Kusama, que agora, com certeza, verei com outros olhos e com um novo fascínio. As ilustrações de Macellari são belíssimas, com traços simples e cores que refletem inegavelmente a vida e obra da própria Kusama.


Nascida no Japão, em 1929, Yayoi Kusama viveu num lar em que havia um conflito permanente entre seus pais. Não bastasse isso, desde a infância ela sofre de alucinações devido à esquizofrenia. Para lidar com a esquizofrenia, ela pintava, desenhava, tentando controlar sua obsessão, a contragosto de sua mãe. Experimentando conflito dentro de casa e com o mundo externo (devido suas alucinações), e tendo encontrado uma forma de dar vazão a este último, Kusama entende que precisa sair de casa, ou seu sistema nervoso entraria em colapso. Assim, ela decide deixar o Japão que reconhece como antiquado e patriarcal. Enquanto buscava seu lugar no mundo, acabou conhecendo a obra de Georgia O’Keeffe, a quem passa a admirar e chega se corresponder. Impressionada com a artista americana, Kusama decide, então, partir para os EUA, onde começa a ganhar notoriedade na década de 1960, até que sua condição psíquica a obriga a voltar para o Japão para acompanhamento médico, depois de quase 20 anos vivendo em solo americano. Durante o tempo em que esteve no Japão sua condição piora e, em 1977, ela decide se internar num hospital psiquiátrico, mas sempre se dedicando a suas criações: pinturas, colagens, desenhos, textos, etc, até ser relembrada em 1989 por todo seu trabalho prévio, e a partir de quando volta também a ter seu trabalho reconhecido e admirado até os dias atuais.

O que eu acho fantástico da vida de Kusama é sua batalha eterna. Se sua obra é permeada de círculos, não os limito à sua visão preenchida por bolas decorrentes da sua esquizofrenia, mas também vejo neles representada sua própria interpretação da vida. Ainda que seu lar não tenha sido um ambiente amoroso, Kusama encontrou alguma forma de fazer as pazes com a memória de seus pais e lhes ser grata por terem-na preparado para “as luzes e sombras da vida e da morte”.

Recomendo muito a leitura dessa GN para quem é amante do gênero em si e também a todos que queiram conhecer um pouco mais sobre essa grande artista. Uma leitura deliciosa, repleta de cores, e com uma bela e emocionante reflexão sobre a vida, que nos leva também a experimentar um pouco da obsessão de Kusama.

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