Para quem não ainda não leu Krystallo 1, vou dar um “resumão”, sem spoilers, claro, para quem sabe, convencê-los a ler também a Saga Krystallo.
Em Krystallo 1, no continente de Emperon, há duas grandes potências, Opus e Econ, que disputam forças e poderes através da tentativa de controle de uma fonte de energia renovável e ilimitada, os chamados Krystallos. Uma guerra é travada entre elas há mais de 100 anos e nenhum deles parece disposto a ceder. Jovens e homens, muitos, pais de família, são enviados às fronteiras de seu país para enfrentar essa guerra sem fim. Mas um adolescente de Econ, Tomé Stalmer, é a única testemunha ocular de um atentado, que o governo parece querer encobrir a todo custo. Esse testemunho faz com que o garoto comece a questionar se as informações disseminadas pelo governo de Econ são mesmo confiáveis.
De outro lado, o governo de Opus também parece esconder a verdade de seus cidadãos, e bem no seu aniversário, Gray Frost é sequestrada. Esse sequestro mudará completamente a sua vida. Se Gray já era uma garota com um senso crítico muito apurado, o desenrolar da história irá torná-la uma jovem determinada a combater os mais terríveis inimigos para descobrir a verdade.
Enquanto isso, os países do continente sul, Parsagena, continuam relegados ao esquecimento e indignos de nota pelas duas grandes potências. Será que com um controle justo, sem guerras, dos Krystallos de energia não haveria uma forma de beneficiar também esses países?
Apresentado um pouco sobre o que o Livro I traz, deixo a sinopse abaixo do Livro 2:
Sinopse:
“Após desmascarar as mentiras dos antigos governos de Opus e Econ, o continente de Emperon vive seu momento de maior prosperidade. As duas potências mundiais têm feito enormes esforços para auxiliar os países de Parsagena a superar a desigualdade econômica e tecnológica que sofreram ao longo do último século por conta dos krystallos de energia.
Entretanto, é em momentos de excessivo otimismo que moram terríveis perigos. Basta um pequeno erro de cálculo para toda a estrutura ruir e abrir espaço para o ressurgimento de forças até então subestimadas. É nessas circunstâncias que Gray Frost e Tomé Stalmer, mais uma vez, são forçados a reviver seus piores pesadelos. Será que agora eles estarão preparados?
Os desafios de uma nascente democracia ameaçada por velhos inimigos, armados com novas estratégias, dividem a cena com os mistérios em torno de um novo krystallo. Enquanto isso, cada um dos personagens luta sua própria guerra, em busca de um lugar no novo mundo eclodido.
A Nova Ordem Mundial continua As Jornadas para Além das Fronteiras com uma trama frenética, mais complexa, resgatando figuras marcantes e apresentando novas criaturas, personagens, ambientes e segredos até então desconhecidos, que serão capazes de mudar o futuro da humanidade.”
Depois de mais de três anos após ter lido o primeiro livro da Saga Krystallo, é com muito carinho que volto a esse universo criado pelo autor Raphael Fraeman.
Olha só que fato curioso. Li Krystallo 1 pouco depois do resultado das eleições presidenciais de 2018. Eu estava devastada, bem triste e inconformada. Ter lido Krystallo, naquela época, mexeu demais comigo, mas de um jeito bom. Através dele, me senti acolhida de certa forma, por entender que meu descontentamento com o cenário político encontrava ressonância em algum lugar, ainda que saído de uma história fictícia.
E agora, em pleno ano eleitoral, uma nova oportunidade de escolhermos melhor diante de nós, recebo o convite do autor para continuar a leitura da saga, com o livro 2. Por ter essa relação de afeto tão grande com o primeiro livro, eu jamais recusaria. São histórias como as contadas por Fraeman que me enchem de esperança. Saber que há autores nacionais dispostos a trazer uma literatura de alta qualidade, que desperta um maior senso crítico, e, ainda, voltada para um público jovem, dá um orgulho enorme de ser brasileira – agora sim, num bom contexto, e não no usurpado por quem constantemente ameaça a nossa democracia.
Quem diz que a literatura não serve para nada, não entende como ela pode estar intrinsicamente ligada à política e tantos outros assuntos pertinentes em nossa sociedade.
Não sou muito boa com sequências que espaçam muito no tempo, seja pra filmes, seriados ou livros. Por isso, precisei reler o Livro I (Krystallo: Jornadas para além das fronteiras – resenha aqui) antes de sequer iniciar a leitura de sua continuação.
Ao reler Krystallo 1, não só relembrei como o livro era exatamente todas as boas memórias que eu tinha dele, como o achei ainda melhor, agora mais atenta a outros detalhes. Mas uma coisa posso afirmar, ao terminar Krystallo 2: o segundo livro consegue ser ainda melhor.
Quando acompanhamos o debute de um(a) autor(a), o que eu mais amo é exatamente isso: acompanhar a trajetória dele(a), e é extremamente delicioso quando a gente percebe que só houve evoluções.
Em Krystallo: A Nova Ordem Mundial, Fraeman está muito mais criativo. Há muitas reviravoltas na história (algumas até em relação ao primeiro livro), os personagens, alguns já velhos conhecidos, vão sendo ainda mais aprofundados, e ganhando mais dimensão. Por outro lado, como já estamos familiarizados com as culturas e ideologias de cada país, e já temos inclusive nossos personagens favoritos, o autor sente-se mais à vontade para trazer novos participantes na narrativa e até para criar conflitos internos dentro de alguns deles, o que também provoca em nós leitores uma ambiguidade que gosto muito de sentir durante as leituras.
Mas o que mais gosto de Krystallo 2 é ver como é preciso que nós, como cidadãos, estejamos sempre atentos aos discursos políticos, tanto daqueles que estão no poder quanto daqueles que almejam alcançá-lo. Através dos discursos e suas condutas, é possível analisar até que ponto determinadas pessoas estão dispostas a chegar para assumir o poder e como seus discursos afastam e/ou ameaçam a democracia, ainda que disfarçados de carisma, de serenidade ou inteligência, mas que na verdade se traduzem em coerção, em falas manipuladoras, cruéis e insensatas. Eu adoro como o autor trabalha o jogo político na saga, ora escancarando ações facilmente repudiáveis por qualquer um, ora trazendo elementos tão sutis que nem parecem uma questão… até que você se vê num conflito moral e carregá-lo vai se tornando um fardo. Afinal, sendo um livro voltado para jovens, muitas vezes ainda se descobrindo, nos mais diversos sentidos, esses conflitos morais são muito comuns, e enfrentá-los faz parte da construção de quem realmente somos, da construção do nosso caráter.
Embora não seja exatamente um romance de formação, há na saga o amadurecimento dos dois jovens protagonistas, Tomé e Gray, mas também de vários outros que os rodeiam. Todas essas histórias paralelas ajudam os leitores a escolher quais caminhos tomariam, e a pensarem que tipo de pessoas elas querem ser.
É muito bom saber que na nossa literatura nacional e independente, temos obras assim, que são ao mesmo tempo entretenimento do mais frenético possível, mas também que questiona nossos jovens leitores, que os faz pensar no nosso próprio contexto político e social, e que, assim espero, também encontrem acolhimento, esperança e coragem para superar todas as dificuldades que o povo brasileiro precisa enfrentar dia a dia.
Dados Técnicos do Livro:
Autor: Raphael Fraeman Publicação Independente – selo Lestur Formato: E-book para Kindle Número de páginas: 564 páginas ASIN: B09F9FNJH5 Tamanho do arquivo: 14322 KB *Exemplar recebido em parceria com o autor. |