Há algo de onírico nos textos de “O coração e outras armadilhas”. A ponto de me atrever a dizer que, ali, encontrei narrativas que tocam o realismo fantástico.
A realidade pode ser cruel. Isso é fato. Quando envolve questões do coração, atinge o ápice. Afinal, dor maior é aquela que sentimos junto à nossa carne pulsante, metaforicamente ou não. E se o realismo é duro assim, a magia encontrada nos sonhos, boa ou não, é que pode torná-lo mais suportável, talvez até cômico.
É nessa atmosfera que os contos de Rebeca Liberbaum oscilam.
“Meu coração”, texto que abre o livro, fez ressoar tão forte em mim suas palavras que vi ali meu próprio coração sangrando, enquanto ninguém à minha volta parecia notar.
A banalidade passa longe dos contos, mesmo que tragam inúmeras situações cotidianas.
A grande armadilha é justamente crer que a vida não pode ser surpreendente nos lugares-comuns: o tédio entre os casais, a traição dos amantes e amigos, a ansiedade do filho que vive o divórcio dos pais, a mãe que se doa por inteira ao filho, mesmo quando já adulto.
Mas não são as cenas absurdas que chocam. O que choca é perceber o quanto de real há no fantástico.
A facada vem da nossa própria epifania. Sobrevive a ela quem vai além da dor (do coração, claro).

Ao todo, são 23 textos, com estilos bem diferentes, que revelam a versatilidade da autora e seu talento como escritora. Se alguns deles escoam a vulgaridade das palavras, outros também nos lembram que a simplicidade às vezes pode ser mais eloquente do que o refinamento.
Tudo é questão de contexto. Uma agitação que come vírgulas; uma sucessão de pontuações que flui tão rápida como os pensamentos que só uma criança pode ter; a podridão do ciúme doentio e a repulsa ecoando nas palavras.
Quem vive tem bagagem de sobra nas questões do coração, e nas palavras certas, nos tons certos, nas combinações certas, somos atingidos a cada conto pela verossimilhança. Mas é a quebra de expectativa, que, junto ao caimento das palavras no nosso peito, forma um furacão dentro de nós.
Dados Técnicos do Livro:
Capa comum: 152 páginas Autora: Rebeca Liberbaum Editora: Patuá; 1ª edição (2022) ISBN-13: 978-6558642763 *Exemplar recebido como cortesia da Agência Literária Oasys Cultural. Adquira o seu preferencialmente através do site da editora. |
Obrigada pela leitura, Isa! Tô aqui aprendendo com você. Muito lindo.
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Obrigada pela confiança no meu trabalho ❤ Quando um autor escreve e o leitor o lê, o ciclo da obra torna-se eterno, ganha vida própria e percorre novos caminhos no imaginário de outros. Adorei a leitura.
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