Suki Kim é uma jornalista Sul-coreana, atualmente residente nos EUA, que consegue a permissão para trabalhar em PUST, a universidade privada, mantida e fundada por cristãos evangélicos, em Pyongyang, capital da Coreia do Norte. Para tanto, ela se disfarça duplamente. Uma escritora se passando por uma missionária que se passa por uma professora.

A PUST é uma universidade privada em Pyongyang. Fundada e mantida por cristãos evangélicos, com apoio do ex-presidente Kim Jong-Il, abriu suas portas em 2010 e recebe os filhos da elite burocrática do país mais fechado do mundo.
Suki Kim relata como foi sua experiência por lá, nos 6 meses que passou no ano de 2011, de julho a dezembro, partindo no exato dia após o anúncio da morte de Kim Jong-il.
Por mais sombrio que tenha sido o período vivido lá, sua narrativa torna a leitura muito envolvente. No começo, eu imaginava que ela recorreria ao recurso narrativo de alternar capítulos entre o período passado em PUST e relatos de sua vida pessoal, mas não é o que acontece, numa grata surpresa que eleva, para mim, o livro a outro patamar, de caráter documental, ainda que eivado de descrições de cunho emotivo.
Numa entrevista (ao final, na minha edição), a autora diz que seu principal objetivo com o livro era humanizar os norte-coreanos, afastando a imagem quase cômica que as pessoas têm do país ao automaticamente o associarem com a figura de Kim Jong-Un e seu corte de cabelo engraçado cujo hobby é ameaçar os EUA com uma bomba nuclear. Lembrar, portanto, o mundo de que ali existem pessoas que estão sofrendo, seja por privações de recursos como comida e energia elétrica, mas também por serem obrigadas a se manterem alienadas ante o regime ditatorial imposto que lhes nega amplo conhecimento.
Um dos relatos que mais me intriga no livro é sobre a dificuldade que Suki tem de ensinar seus alunos a fazerem um texto dissertativo. Diz ela que os textos dos jornais no país não têm começo e nem fim, são textos cíclicos, sem progressão ou fechamento. Uma dissertação exige uma pequena introdução, cujo conceito eles não entendem, e um desenvolvimento, que implica provar seus argumentos. Mas num país onde a população não é ensinada a questionar mas a simplesmente aceitar tudo aquilo que lhes é dito, não sabe o que é provar um argumento. Todos textos “jornalísticos” a que são expostos os alunos sempre terminam da mesma forma: expondo um benevolente feito do grande líder, sem o qual eles não existiriam. É daí que vem o título, aliás, de um dos muitos hinos que lhe são ensinados nas aulas de Juche, a ideologia do país que trata Kim Il-Sung e sua família como verdadeiras divindades. Uma pena, já que achei tão bonito o nome.

Quando pensei no que escreveria sobre este livro, lembrei dessa dificuldade na escrita dos alunos, e também senti que meus vários esboços caminhavam em círculos, mas por um motivo completamente oposto: pela enorme quantidade de informações que a leitura me trouxe, não sabia por onde começar. Minha vontade era trazer todas as curiosidades num único post, mas isso se mostraria inviável.

Espero que o que consegui destacar aqui seja o suficiente para levar mais pessoas a lerem este livro. Acho que mais pessoas precisam saber o que acontece ali, mesmo entre a elite da juventude.
Depois da leitura, fica o questionamento se o que os jovens estudantes de PUST aprendem será o suficiente para que um dia eles mesmos se voltem contra o regime. Espero que sim.

Dados Técnicos do Livro:
Editora: Crown Publishing Group (NY); First Paperback Edition (2015) Autora: Suki Kim Capa comum: 308 páginas ISBN-10: 0307720667 – ISBN-13: 978-0307720665 Idioma: Inglês* Livro adquirido em sebo. É possível encontrar já tradução no Brasil, “Infiltrada” (Universo dos Livros, 2021). Saiba mais aqui. |
1 comentário