Britt-Marie esteve aqui (Britt-Marie was here)- Fredrik Backman

Finalmente li outro livro do Fredrik Backman, que à essa altura já se tornou um dos meus autores favoritos, sem receio algum de dizer isso. Este é meu terceiro livro lido dele (fora o conto “The Deal of a Lifetime”, que não foi resenhado, infelizmente aqui no blog). Os livros lidos (e sim, resenhados) foram: “Um Homem Chamado Ove” e “Minha Avó Pede Desculpas”. Aliás, sugiro para quem acaber se interessando por “Britt-Marie esteve aqui” que leia antes “Minha Avó Pede Desculpas”, já que Britt-Marie aparece por lá, como uma vizinha, e talvez conhecer sua versão como protagonista da história logo de cara atrapalhe a experiência da leitura com ela como uma personagem secundária.

Dito tudo isso, sem mais rodeios, apresento-lhes a sinopse do livro.

Sinopse:

“Britt-Marie não suporta bagunça. Uma gaveta de talheres desorganizada está no topo de sua lista de pecados imperdoáveis. Para ela, o dia começa às seis da manhã, porque apenas lunáticos acordam mais tarde. E ela não é passivo-agressiva. De forma alguma. Acontece que às vezes as pessoas interpretam suas sugestões construtivas como críticas, o que certamente não é a intenção. Britt-Marie não é do tipo que faz julgamentos ― não importa quão mal-educadas, desleixadas ou moralmente duvidosas as pessoas possam ser. Mas, por trás do jeito socialmente desajeitado, exigente e intrometido há uma mulher cheia de imaginação, com sonhos maiores e um coração muito mais afetuoso do que qualquer um ao redor dela é capaz de perceber. Quando Britt-Marie resolve deixar o marido infiel para trás e se virar por conta própria na cidadezinha “onde Judas perdeu as botas”, também conhecida como Borg ― sobre a qual o maior elogio que se pode fazer é que é construída ao longo de uma estrada ―, ela está mais do que despreparada. Contratada para cuidar de um centro recreativo prestes a ser fechado, a meticulosa Britt-Marie precisa lidar com pisos enlameados, crianças indisciplinadas e um rato (literalmente) como colega de quarto. Ela se vê envolvida no cotidiano dos moradores locais, uma estranha variedade de canalhas, bêbados e desocupados ― e um policial boa-pinta que mal consegue esconder seus sentimentos pela recém-chegada. E, para completar, a ela restou a impossível tarefa de treinar e conduzir um time infantil de futebol sem o menor talento rumo à vitória. Engraçado e comovente, Britt-Marie esteve aqui é uma celebração às amizades inesperadas que nos transformam para sempre, e ao poder do mais gentil dos espíritos de tornar o mundo um lugar melhor.”


Minhas Impressões sobre a Leitura:

Fui ler com muita expectativa, porque é assim que começo a leitura de quaisquer dos livros de Backman. E, felizmente, não fui decepcionada em momento algum, encontrando uma história à altura da esperada. Quem procura um livro para aquecer o coração nesses tempos tão difíceis de ódio, medo e incertezas, este é o livro que recomendo!

Tenho um pouco de receio de acabar descrevendo demais a personalidade de Britt-Marie e estregar a experiência de quem ainda não leu “Minha Avó Pede Desculpas”. Mas desde lá a personagem já havia despertado minha curiosidade, porque já ali, na sua versão intragável e insuportável, percebi que ela era muito mais do que se mostrava. Uma pessoa com um passado, com seus traumas, seus problemas não resolvidos, enfim, um ser humano imperfeito como todos nós. Foi, inclusive, uma das personagens por quem senti muita empatia, por me lembrar de algumas pessoas difíceis da vida real e finalmente entender por que elas são como são.

Britt-Marie sai de casa, sem dizer nada ao marido, depois de descobrir que ele a estava traindo, e vai em busca de um emprego, aos 63 anos de idade. Por conta desse novo emprego ela acaba parando numa comunidade chamada Borg (fictícia), onde ela ocupará um cargo temporário como responsável pelo centro de recreação dessa comunicade. Borg é uma pequena cidade cuja única vantagem é descrita como “ter sido construída às margens da rodovia”, o que lhe garante fácil acesso. Nem por isso as pessoas vão para lá. Na verdade, é aparentemente o típico lugar de onde as pessoas saem e não voltam mais, e as que ficam são vistas como as que não desistiram. Ainda. O comércio local está praticamente fechado, com uma pizzaria que funciona ao mesmo tempo como correio, mecânica e mercearia. Ainda assim, há algumas crianças em Borg, o suficiente para formar um time de futebol, e é a esse esporte que elas se agarram.

Eu não sou grande fã de futebol (e nesse aspecto, quase me identifico com Britt-Marie, embora eu ao menos saiba o que é um torneio, a Champions Legue e a Copa do Mundo, o que, convenhamos, não é motivo algum para se vangloriar), mas adorei como Backman faz uma espécie de analogia entre as qualidades das pessoas e os times para os quais elas torcem. Os times mencionados que lembro são: Ashton Villa, Liverpool, Manchester United, Tottenham… ou seja, clubes ingleses. Ele também compara a vida ao futebol, que é uma metáfora poética à maneira Backman de ser poético. A metáfora, porém, deixo para ser descoberta pelo leitor.

Mas explico o que é a poética de Backman. Os livros dele sempre têm um humor irônico, no estilo britânico, e eu adoro isso. Mas depois de rir e nos divertir muito com as descrições, com sua forma de narrar alguns fatos, logo em seguida somos pegos de surpresa nos questionando como há verdade, beleza e profundidade nessas frases humorísticas. Elas expressam a vida, e tudo que lhe rodeia, da forma mais simples possível. Há um deleite inegável nas coisas ditas que qualquer pessoa possa entender. Eu as chamaria de poéticas, e creio que até Britt-Marie concordaria comigo, ainda que relutante.

Também é muito gostoso acompanhar toda a transformação pela qual Britt-Marie passa, e pensar que essa transformação se deu num lugar como Borg, onde ela pode ser ela mesma e onde não se sente sozinha como sempre se sentiu, onde ela não é a mulher na qual se tornou por estar sempre só fazendo as coisas pelos outros. E quando isso acontece, o que o leitor percebe é que Britt-Marie também tem o poder de transformar as pessoas e, consequentemente, um lugar. E não só Britt-Marie, mas todos nós também.

Assim, diria que “Britt-Marie esteve aqui” é um daqueles livros que nos faz colocar nossas vidas em perspectiva e analisá-las. Porque o livro questiona isso em algum momento também: como devemos levar nossas vidas? Mas também nos faz questionar quem somos, quem nos tornamos, quem queremos ser e o que nos impede de ser o tipo de pessoa que queremos ser. Um livro leve, belo e emocionante que desperta o que há de melhor em nós.


Dados Técnicos do livro (edição em português – Brasil):

Capa comum: 304 páginas

Autor: Fredrik Backman

Editora: Fábrica231; Edição: 1 (8 de outubro de 2019)

ISBN-10: 8595170584 – ISBN-13: 978-8595170582

Traduzido do livro (título): Britt-Marie was here (inglês)

A edição que li foi a inglesa, pela Sceptre Books, adquirida na Munro’s Books.

Minha edição:

Capa Comum: 312 páginas

Autor: Fredrik Backam – Tradução (direta do sueco): Henning Koch

Editora: Sceptre Books; Edição 1 (2016)

ISBN: 9781473617230

Título Original: Britt-Marie var här (sueco)

Adquira a sua edição preferencialmente numa livraria também. Abaixo, listo algumas livrarias onde você pode encontrar o livro (em português):

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4 comentários

  1. Estou sentindo a necessidade de me aventurar por gêneros literários e narrativas diferentes das quais eu estou acostumada a ler e esse autor tem uns livros que me interessam. Quero começar pelo livro Minha Avó pede Desculpas. 🙂 ♥

    Curtido por 1 pessoa

    1. Eu adoro não-ficção e biografias, como vc sabe, bem como ficções históricas ou que tragam temas difíceis mas necessários. Mas acho que às vezes nossa cabeça também precisa de um pouco de descanso de tudo isso, com leituras mais leves, e realmente indico os livros do Backman pra essas pausas necessárias ^^

      Curtido por 1 pessoa

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